Por que sou contra o Sirsasana ou (Postura do Pouso Sobre a Cabeça) ?

sirsasanaDe todas as posturas de Yoga, que são de número quase infinito (incluindo suas variações) certamente uma das mais desafiadoras – e por isso mais cobiçadas pelos praticantes em todos os estúdios de yoga do mundo – é o tal pouso sobre a cabeça – sirsa (cabeça) + asana (postura).

É inegável dizer também que se ele for feito corretamente e com instrução adequada** a postura é ótima e muito bem classificada em todos os tratados mais tradicionais do Hatha Yoga.

Vale notar também que nestes textos antigos e preciosos essa tradição era passada de mestre para discípulo como um segredo, um tesouro particular e pessoal recluso e isolado de outras pessoas.

Acontece que a situação que se observa nas capitais de todo o planeta é um tanto diferente pois na sala de Yoga existem vários praticantes juntos, inevitavelmente observam-se uns aos outros e apenas um professor instruindo a ação de várias pessoas ao mesmo tempo.
Estes dois detalhes acima terão influência direta nas consequências desta postura.
Primeiro porque é obviamente natural e não-condenável que um praticante ao ver outros em sirsasana sinta-se impelido a realizar a postura também mesmo sem ter o preparo que ela exige APESAR DE TODA ÊNFASE EM AHIMSA (NÃO-VIOLÊNCIA) QUE O PROFESSOR POSSA FORNECER. Trata-se de uma questão de comparação e às vezes até de ego, leia-se: eu-consigo-fazer-isso-também!
Na outra ponta apenas 01 professor numa sala com algumas colunas vertebrais invertidas poderá eventualmente não conseguir deslocar-se a tempo de socorrer uma queda sobre a cervical.

Fato é que tenho nestes anos recebido algumas pessoas que se machucaram ao realizar o pouso com outros professores bem-intencionados (afinal aprendemos esta postura nos cursos e com os mestres também). As queixas são as mais diversas: uma moça (que não vou declinar o nome aqui) teve uma hérnia cervical que lhe rendeu 6 meses sem movimentar os dois braços normalmente, curou-se com muita fisioterapia e acupuntura. Outro rapaz jovem, flexível e disciplinado com 25 anos e 7 anos de prática tombou prá trás e trincou o cóccix sofrendo com dores. Além do caso noticiado pela mídia no Rio de Janeiro em de fevereiro de 2015 do surfista Filipe Fairich que morreu, segundo a matéria, após fraturar o pescoço fazendo a postura numa praia. Não sei se seu falecimento de fato foi relativo à postura, afinal desencarnar é também Moksha.
Também não vou ser eu a ficar aqui pichando uma postura que beneficia milhões de pessoas e só faz mal à algumas e em alguns casos isolados.
Mas ao invés de tapar os olhos, fingir que a culpa é do praticante e reafirmar que a velha tradição está sempre certa, prefiro Satya – Verdade.

Então fica aqui meu olhar reflexivo de paz que contesta, lembrando do que meu mestre me ensinou sobre zelar pelo que é mais importante – A SEGURANÇA DO PRATICANTE.
Fica o olhar que não fecha as pálpebras por falta de opção mas por estar a par de tudo: será que a postura da vela por exemplo:

sarvangasana

não seria uma opção bem mais segura para ser ensinada em grupo??

Pois os alunos particulares estão em outra situação é claro… Digo isto pois o Sarvangasana –  a postura da vela tem de fato o mesmo efeito de inversão do tão querido pouso sobre a cabeça, ou pelo menos, um efeito bem semelhante.

E sem reproduzir o FORMATO da postura mas reconhecer que o queremos é o EFEITO das posturas de Yoga, podemos olhar com lente de aumento para um fator tão importante como este…
Ou ainda, utilizar as koruntas para que não haja impacto nem compressão das pequeninas vértebras cervicais e somente o efeito desejado***.

Por isso resolvi escrever este texto para que talvez outros mestres e praticantes também possam pensar e refletir sobre o assunto para assim, formar suas opiniões, afinal, quando se pensa em Yoga não se deve ter preconceitos ou dogmas mas sim experiência, estudo e verdade!

Com amor,

Marcela Maia
é instrutora de yoga no butantã, musicista e massoterapeuta.
www.aguavivayoga.com

**observadas as contra-indicações da postura como crise de pressão alta não controlada, problemas nos olhos (como tendência ao descolamento de retina), ferimentos bucais como extração de dentes feitos recentemente.

***observadas as corretas instruções de instalação da korunta e sua manutenção, bem como monitorado cautelosamente o tempo de permanência na mesma.